Manuel Pereira Reis nasceu em
Salvador no dia 12 de novembro de 1837, filho do livreiro português Joaquim
Pereira Reis.
Após a morte do pai, mudou-se para o Rio de Janeiro, então capital do
Império, em 1856. Completou os estudos secundários no mosteiro de São Bento e
em 1857 matriculou-se no Imperial Liceu de Artes e Ofícios, período em que se
dedicou à pintura e se tornou amigo de Pedro Américo. Nomeado adjunto do
professor de desenho da Escola Naval em 1858, anos depois, em 1867 foi
designado professor de topografia e desenho topográfico da mesma escola.
Engenheiro e bacharel em ciências
físicas e matemáticas pela Escola Central, depois Escola Politécnica, em 1872,
no ano seguinte foi agraciado com a Ordem da Rosa, por ter inventado um
instrumento para medir frações de segundo. Em 1874 recusou convite para
integrar a Comissão de Limites com a Bolívia, por estar realizando, como
praticante do Imperial Observatório, medições geográficas no Rio Grande do Sul.
Dois anos depois, foi nomeado astrônomo do Imperial Observatório, tornando-se
responsável pela direção da instituição em caso de impedimento do diretor, o
francês Emmanuel Liais. Ainda em 1876, participou da elaboração da Carta Geral
do Império junto ao Ministério da Agricultura. Na qualidade de chefe da
Comissão Astronômica do Ministério da Agricultura, em 1877 determinou a
diferença de latitudes e longitudes entre o Imperial Observatório e Barra do
Piraí, utilizando para tal fim, pela primeira vez no Brasil, o telégrafo.
Em 1878 envolveu-se numa polêmica
com Emmanuel Liais e depois com o sucessor deste, o belga Luiz Cruls. A
polêmica, que se iniciou com as denúncias de Pereira Reis de favorecimentos
pessoais no Observatório, culminou na sua saída voluntária daquela instituição.
Contudo, a troca de acusações perduraria mais de 30 anos, alcançando as páginas
dos jornais e a tribuna da Câmara dos Deputados, e desdobrando-se, de parte a
parte, na imputação de incompetência técnica. Muito provavelmente, a polêmica
tinha raízes mais profundas, derivando do sentimento de insatisfação contra o
desligamento do Observatório do âmbito da Escola Central, exigência feita em
1870 por Liais.
Sintomaticamente, Pereira Reis
ingressou na Escola Politécnica já em 1879, passando a lente da cadeira de
astronomia em 1881, com o título de doutor em matemática. Nesse mesmo ano,
fundou o Observatório Astronômico da Escola Politécnica (hoje o Observatório do
Valongo, pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ), do qual
se tornou o primeiro diretor. Ainda em 1881, foi encarregado de examinar a
planta cadastral da cidade do Rio de Janeiro levantada pelo engenheiro João
Rocha Fragoso. Em 1883, juntamente com Conrado Jacob de Niemeyer, executou o
plano de linha e o cadastro de Copacabana, e assumiu o cargo de chefe da
Comissão da Carta Cadastral do Rio de Janeiro
Convidado por Raimundo Teixeira
Mendes, presidente do Apostolado Positivista do Brasil e seu contemporâneo na
Escola Central, foi um dos responsáveis pela elaboração do novo pavilhão
nacional após a proclamação da República (15/11/1889), cabendo-lhe organizar a
posição das estrelas no dístico da bandeira.
Em 1900, deixou a chefia da
Comissão da Carta Cadastral – que foi responsável pela organização da carta
cadastral e topográfica do Distrito Federal, a principal fonte de que se serviu
o prefeito Francisco Pereira Passos para sua reforma urbanística – e foi
convidado para chefiar a Comissão de Limites com a Bolívia. Contudo, não
aceitou o cargo por ter sido eleito deputado federal pelo Rio Grande do Norte,
na legenda do Partido Republicano Federal. Fora indicado pelo líder político
daquele estado, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, para concorrer à eleição
como candidato extra-oficial, e foi eleito, ainda que não fosse conhecido no
Rio Grande do Norte. Sua ligação com o grupo que controlava a política no Rio
Grande do Norte datava da década de 1880, quando Augusto Severo de Albuquerque
Maranhão, irmão de Pedro Velho, frequentou seu curso na Escola Politécnica.
Quando Augusto Severo concebeu em 1893 o balão “Bartolomeu de Gusmão”, seu
projeto recebeu a aprovação de Pereira Reis. Anos depois, Pereira Reis
envolveu-se pessoalmente com outro projeto de Augusto Severo, o do balão
dirigível Pax (Severo morreu na explosão do Pax, ocorrida em Paris em maio de
1902).
Empossado na legislatura 1900-1902
e reeleito para as duas legislaturas seguintes (1903- 1905 e 1906-1908),
Pereira Reis centrou sua atuação na Câmara na busca de recursos destinados a
combater os efeitos da seca no Rio Grande do Norte, conseguindo, em 1904,
constituir junto ao Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, a chamada
Comissão de Perfuração de Poços, da qual foi nomeado diretor. Sediada em Natal,
a comissão funcionou até 1906, direcionando parte das verbas destinadas às
obras contra as secas para o estado. Por conta de sua posição, visitou os
Estados Unidos em busca de novos métodos de prospecção, importando máquinas e
trazendo técnicos daquele país. Envolveu-se ainda na chamada “questão de
Grossos”, que opôs Rio Grande do Norte e Ceará na disputa de uma área
fronteiriça. Operou no levantamento da área disputada, de modo a subsidiar os
esforços empreendidos na defesa das pretensões do Rio Grande do Norte.
Abandonando a carreira política e retirando-se também do magistério, voltou a
dedicar-se à pintura. Faleceu em Barbacena (MG) em 24 de junho de 1922. Era
casado com Adelaide Margarida de Azevedo Reis, com que teve um filho.
Publicou Teoria completa dos
cometas (1881); Determinação das diferenças de latitude e de longitude entre o
Imperial Observatório Astronômico do Rio de Janeiro e a Barra do Piraí (1877);
O céu na latitude de 23º sul - mapa circular rotatório (1887); Planta da cidade
do Rio de Janeiro (1894).
RENATO AMADO PEIXOTO
FONTES: AZEVEDO, F. Ciências;
BARATA, M. Escola; CASCUDO, L. Vida; FERNANDES, A. Pioneiro; OLIVEIRA, J.; VIDEIRA,
A. Polêmicas (p. 42-52); RUBENS, C. Pequena; SOUZA, I,; MEDEIROS FILHO, J.
Seca.